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Foi em Outubro de 2021, o Instagram tinha caído e ficámos orfãos da nossa vida durante algumas horas. Foi o grande pânico nas hostes, equacionamos tudo: onde devíamos estar, o que devíamos fazer para nos libertarmos do que nos faz mal, onde era (ou devia ser) a nossa casa e da qual devíamos cuidar com atenção e carinho.

Mas foi uma mera reação, o IG acordou no dia seguinte e tudo voltou à rotina, aos dias do scroll, da visão sem sentido com que iniciamos e acabamos os nossos dias.

Num ano muito aconteceu. O mundo não acabou, mas mudou! Este ano trouxe-nos o maior desafio que podemos enfrentar. A guerra acabou com a ordem da vida tal como a vivíamos. O efeito guerra obriga-nos a pensar diariamente, como temos que contornar, adaptar ou inventar, a nossa nova realidade. E neste estado de espírito estamos.

Admiro as pessoas que olham para tudo isto sem qualquer emoção, como se vivessem noutro planeta. Mas também admiro as que olham para este ano terrível como um tempo de oportunidades. Estou a aprender muito com tudo isto. Não gosto, mas aprendo e é bom.

E chegámos ao fim da época dos casamentos, mais uma. A transformação da pandemia para a não pandemia é avassaladora. Da fome passámos para a excessiva abundância. E foi toda uma época de tudo ou nada. Ambas as partes foram a jogo sem preparação e o minuto a minuto da coisa foi brutal. Sem ritmos, sem análise, sem prioridades. Foram meses imparáveis, não houve espaço para mais nada. Ganhar o máximo, aproveitar a oportunidade sem descanso foi o cenário de guerra.

E agora vamos voltar ao desmame da época. Da hiper actividade vamos entrar na hibernação.

O panorama nacional deste sector é cada vez mais neutro e sem capacidade de renovação ou inovação. Há mais gente nova no negócio, mas a oferta nem por isso se apresenta mais criativa. Todos fazem o mesmo, a oferta é uma cópia exacta do que o mercado americano ventila até à náusea. Estamos presos neste modelo obsoleto e como sempre achei, desfasado da nossa realidade de europeus que entendem a vida de outra maneira. La joie de vivre faz parte do nosso ADN. Os clientes estão reféns do IG.

Dos vestidos à decoração e às flores, tudo é formatizado, contido e sem “incorrecções” de estilo. Somos uns bons alunos, mas estamos a viver a vida dos outros. Não a nossa. Em termos colectivos estamos mais isolados, mais metidos na nossa concha e menos abertos ao diálogo tão necessário para o crescimento em ideias e troca de experiências.

Se o futuro do sector é isto, atrevo-me a dizer que esta época tornou-nos mais “ricos” no imediato, mas também nos tornou mais pobres.

E agora para nos rirmos um bocadinho.

O que mais vimos nesta época e que já era tempo de “destralharmos” do assunto:

  • paleta de cores obsessivas,

  • convites sem personalidade e por amor da santa, acabem com os lacres já! temos tantos talentos por aí e o resultado é sempre o mesmo?

  • excesso de flores, afinal somos a favor do ambiente ou contra? temos que escolher de que lado estamos da barricada. Ver a rapaziada mais nova entrar de olhos fechados nisto, deixa-me a hiper ventilar. Mesmo que digam que tudo é free foam… a hipocrisia não é boa para o planeta malta!

  • o estilo palaciano… adoro! os estrangeiros devem pensar que parámos no século passado e ainda não descobrimos outra forma de decorar uma festa.

  • iluminação excessiva. O Natal parece que veio para ficar nos casamentos. Seja ao ar livre ou indoor é carregar na factura. As empresas agradecem claro, mas o charme natural dos espaços perde. Quem é que pensa nisto?

  • queremos todos entradas espectaculares da igreja mas as selvas aumentam diariamente. Há um frenesim em mascarar o património que dói.

  • bouquets de flores secas ou catalogo de espécies: algo tem que mudar. Sabemos que todas as Noivas vão ao Pinterest porque não dá trabalho nenhum, é só apontar e zás. Mas compete ao profissional encontrar o “ponto de caramelo” e não deixar queimar o açúcar :). E o açúcar acaba sempre por se queimar, porque a imagem que se quer para o IG é mortífera.

  • clonagem desenfreada. O IG é terrível naquilo que se vê de maquilhagem das Noivas. Parecem-me todas iguais. O efeito Kardishian parece ter tomado conta da cena, totalmente :(

  • Noivas xoninhas ou Noivas temáticas: é tudo o que mais vimos estes meses. O padrão é tão sem sal sem personalidade que retira completamente, o foco da Noiva. Meninas, pensem no assunto. Deixem de lado o que tem que ser, pensem no que querem no que vos representa. Se se sentem confortáveis com uma saia e uma camisa peçam ao vosso designer que vos façam o conjunto mais sofisticado do universo. Não é uma questão de dinheiro é uma questão de respeito pelo vosso estilo.

E por hoje ficamo-nos por aqui. Não sei se é uma volta ao diálogo com consistência ou não, o futuro o dirá.

Fiquem bem.

Bisou


post #30 O ENORME VALOR DAS COISAS PEQUENAS parte2

Este mail era para ter sido publicado há uma semana, mas ainda bem que não foi. E porquê? porque de repente, chegaram as novidades que esperamos há tanto tempo: finalmente podemos recomeçar a trabalhar!

Ora o que intencionalmente seria um post sobre os "novos casamentos", sim, os pequenos ou intimistas como lhe queiram chamar, tudo de repente mudou.

Vamos iniciar (mais uma vez) o desconfinamento e... na minha opinião, sem regras claras e precisas. Casuisticamente, será a capacidade do espaço, a definir o tamanho do casamento. Espera-se um regabofe! A nossa criatividade é enorme, é só pena que dê resultados tão terríveis a maior parte das vezes.   

Sendo uma optimista incorrigível, espero que esta onda de entusiasmo baixe de tom à medida que se irão detectando situações de "desvairo absoluto". E virão de ambos os lados: Noivos e profissionais do sector. A sede de fazer dinheiro a qualquer custo, tolda o espírito e remete o bom senso para as urtigas. A pressão será grande e a ausência de um sentido comum para o sector a cereja no topo do bolo.

Mas voltando ao tema..., e inspirando-nos naquilo que pode ser uma tendência a considerar nos próximos tempos, o paradigma dos casamentos grandes pode muito bem estar em "mutação". Por cá, o assunto não se discute (ainda?), mas se calhar no intervalo dos mega casamentos, podemos ir pensando no assunto.

Questão para uma saudável discussão:

Será que planear para 20/30 é o mesmo que para 100/120? O princípio é o mesmo mas pelo meio muita coisa será objectivamente diferente. Desde logo...

  • animação: o modelo Dj+pista torna-se de todo "too much" para um pequeno grupo de 20 pessoas. A pista precisa de gente animada e um grupo (robusto) que se mostra e quer ser visto. Este será um desafio à nossa imaginação e criatividade.

  • para que o dia seja animado e interessante, o modelo cerimónia+cocktail+refeição+festa, poderá, sofrer alguns acertos de modo a não se tornar ao fim de um par de horas, um pouco decepcionante e desinteressante. O "mood" do dia poderá ter que ser revisto. Encontrar novos pontos de interesse será o grande desafio. Seja através de pequenos apontamentos musicais ou, algo que seja do interesse comum do pequeno grupo.

  • as contas que fazíamos por mesa poderão deixar de fazer sentido, bem como por convidado. Um novo paradigma de preços poderá estar a caminho.

  • os budgets duma forma geral podem encolher um pouco, mas a verdade é que podemos esperar que novos hábitos surgirão,  o que pode tornar esta questão irrelevante.

  • a situação que conhecíamos até agora: "um casamento, um dia", pode também deixar de fazer sentido. Quando for permitido mais gente por evento, acredito que haverá situações em que os Noivos irão celebrar em dois tempos diferentes, o seu casamento. O dia da cerimónia e o dia da celebração. Tudo poderá deixar de se jogar num só dia.

  • a poupança em convidados, pode ser canalizada para detalhes mais interessantes e qualitativos. Menos gente mas decoração, flores, e apontamentos mais refinados e diferenciadores.

  • as cerimónias serão certamente momentos com maior prestígio. Estar presentes neste momento mais intimo e especial pode passar a ser um privilégio (só) para alguns.

Em resumo: voltarmos aos grandes casamentos em total segurança, poderá demorar ainda algum tempo. Os factores dos quais depende esta situação, são complicados e não terão uma resposta rápida. Por outro lado, quando o clima for mais propício, o factor medo ainda irá perdurar nas nossas cabeças.

Interessante mesmo, será assistir aos novos hábitos que no entretanto iremos todos desenvolver "neste tempo do nosso descontentamento".

Como sempre, ouvir a sua opinião é importante!

Bisou, Mª João

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